Discursos e outros documentos do Secretário-Geral

DISCURSO DE ACEITAÇÃO, LUIS ALMAGRO LEMES

março 18, 2015 - Washington, D.C.

A América está dividida há muito tempo... Demasiado tempo. Minhas andanças pelas Américas nesses últimos meses me transformaram. Eu me sinto menos como uma pessoa local e mais como um americano e devo isso aos senhores.

Creio que chegou a hora de pôr fim a fragmentações desnecessárias. A partir de 26 de maio, como SG da OEA, meu esforço será dedicado a fazer da OEA um instrumento útil aos interesses de todos os americanos, sejam eles do centro, do sul, do norte ou do Caribe.

A solidariedade será meu principal eixo de orientação.
Senhor Presidente do Quadragésimo Nono Período Extraordinário de Sessões da Assembleia Geral;
Ilustres Chanceleres;
Senhores Vice-Chanceleres;
Representantes Permanentes e membros das Missões junto à OEA aqui presentes;
Observadores Permanentes;
Funcionários da OEA;
Amigas e Amigos,

É com os senhores, como representantes dos povos das Américas, que assumo meu compromisso, é aos senhores que agradeço o voto de confiança em mim depositado. Em mim, encontrarão um lutador incansável pela unidade americana, mais preocupado em buscar soluções práticas e duradouras para os problemas da nossa região do que com a retórica e a estridência de declarações orientadas por uma ou outra ideologia.

Tenho a convicção de que a era de uma OEA discursiva, burocrática, afastada das preocupações dos povos americanos, ancorada nos paradigmas do passado, está definitivamente dando lugar a uma OEA do século XXI.

E isso ocorre como resultado das realidades de um mundo e de um Hemisfério multipolar.

Cabe a nós dar um empurrão de realismo na OEA e realizar, da melhor forma possível, aquilo que ninguém pode articular melhor do que esta Organização: um diálogo político com resultados tangíveis em áreas-chave para a democracia, os direitos humanos, a segurança e o desenvolvimento integral das Américas.

Trata-se de um espaço único: não é a UNASUL, nem a CELAC, nem a CARICOM, nem o SICA, nem o MERCOSUL, nem o NAFTA, nem a Aliança do Pacífico. Abarca todos eles e a soma deverá ser maior do que as partes.

Não tenho interesse em ser o administrador da crise da OEA, mas, sim, o mediador da sua renovação.

Passei boa parte dos últimos oito meses dialogando com governos, com a sociedade civil e com o setor privado, e comprovei junto a eles que ainda há a esperança de que a OEA possa aproximar-se da nova realidade do Hemisfério e contribuir para garantir mais democracia, mais direitos, mais segurança e mais prosperidade para todos.

Para isso... ajustaremos as prioridades a esses objetivos estratégicos e manteremos tudo o que for essencial ao seu cumprimento; e o que for obsoleto ou suplementar será revisado.

No que se refere às iniciativas que anunciei como parte do programa de trabalho no mês passado, vou mantê-las, pois não se tratavam simplesmente de uma plataforma eleitoral de forma alguma.

Segurança cidadã. Tema que está entre os dois ou três principais na preocupação de todos os países do Hemisfério. Trabalharemos em uma iniciativa hemisférica junto às multilaterais com um enfoque integral do problema.
Escola do Governo. Contribuiremos para a formação dos quadros do setor público e da sociedade civil, dotando-os de ferramentas para o bom governo, a transparência, a prestação de contas e a articulação de consensos.
Prevenção de conflitos sociais. Facilitaremos o diálogo entre investidores de dentro e fora da região com os Estados e as comunidades em setores produtivos-chave que geram riqueza e conflitos em sua distribuição.
Prevenção e gestão de desastres naturais no Caribe e na América Central. Articularemos uma rede de melhores práticas com o Sistema das Nações Unidas e os organismos multilaterais.
Interconectividade no Caribe. Uma iniciativa para superar as lacunas de conectividade digital, além das lacunas fluvial e aérea, atraindo investimentos para essa região, a fim de promover o progresso e a oferta de trabalho para os jovens.
Rede Pan-Americana sobre Qualidade da Educação. Uma iniciativa que nos permite suplantar as realizações alcançadas em matéria de acesso à educação, a fim de provocar um maior impacto nos resultados da educação de nível superior.
A fim de levar esta agenda adiante, deveremos realinhar o orçamento com base nesses objetivos e dar início à reestruturação e modernização da Organização.

Nesse sentido, orientei aqueles que constituirão a minha equipe de transição a que comecem as tarefas de preparação das medidas correspondentes a essa agenda, inclusive a formação de uma comissão internacional de peritos que elabore recomendações sobre como ajustar o orçamento aos resultados e, assim, permear a Organização de uma cultura renovada.

Durante os próximos dois meses de transição, eu e meus colaboradores nos dedicaremos principalmente a escutar e saberemos escutar todos, desde os Embaixadores até os diretores, a Secretaria-Geral, passando pelos funcionários profissionais e administrativos, a sociedade civil e outros organismos. Todos.

Quero prestar reconhecimento ao trabalho de todos os funcionários desta Organização que contribuem para demonstrar que profissionalismo e resultados não são incompatíveis com o caráter político de uma organização como a OEA.

Senhora e Senhores Chanceleres,
Amigas e Amigos todos,

Meu olhar, no curto prazo, está dirigido à Cúpula das Américas, oportunidade histórica para avançar rumo a um Hemisfério sem exclusões, com a presença de Cuba no âmbito interamericano pela primeira vez em décadas.

Agradeço ao Secretário-Geral, José Miguel Insulza, e à sua equipe por haverem facilitado nossa atuação quando visitamos a sede da OEA, e certamente continuarão a fazê-lo durante a transição, até final de maio.

Por fim,

Gostaria de manifestar o meu mais profundo agradecimento ao Senador e ex-Presidente do Uruguai, José Mujica, que, na realidade, foi quem me deu o incentivo inicial e o apoio para continuar na carreira; ao atual Presidente do meu país, Tabaré Vázquez; ao Chanceler Nin Novoa; e aos meus colaboradores, que foram muitos, tantos que, se não cito nomes, é porque não daria tempo de fazê-lo.

Mais uma vez, obrigado pela confiança.

Aceito esta responsabilidade com a humildade de quem sabe que o êxito do meu trabalho somente será tangível se, ao final do meu mandato, pudermos dizer com certeza que a OEA colaborou para que mais americanos vivam em paz, com mais democracia, mais direitos humanos, mais segurança e mais prosperidade.

Obrigado.