Liberdade de Expressão

Comunicado de imprensa R43/22

A Relatoria Especial condena o assassinato do jornalista Givanildo Oliveira no Brasil e urge que o Estado que investigue os fatos considerando sua atividade jornalística

2 de março de 2022

Washington D.C. - A Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condena o assassinato do jornalista Givanildo Oliveira em Fortaleza, Ceará, e insta que o Estado brasileiro investigue os fatos de forma completa, efetiva e imparcial, levando em consideração o trabalho do jornalista como possível motivo do crime, e sancione os responsáveis.

De acordo com as informações disponíveis, no dia 7 de fevereiro de 2022 o jornalista Givanildo teria sido baleado por uma pessoa desconhecida nos arredores de sua casa no bairro do Pirambu, cidade de Fortaleza. Givanildo Oliveira era repórter do site Pirambu News do qual também foi o fundador –, que cobre assuntos de interesse geral local, incluindo a agenda policial.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará informou que agentes se encaminharam ao local do assassinato após receberem denúncias, onde ademais especialistas forenses começaram a colheita provas. Em uma mensagem pública, o governador do estado do Ceará descreveu o crime como "inaceitável", e que era necessária a "imediata identificação e prisão de todos os envolvidos". O funcionário informou que que havia pedido ao Secretário de Segurança do Ceará que se reforçassem as investigações para que houvesse respostas imediatas.

De acordo com os relatos recebidos, o jornalista havia sido anteriormente alvo de ameaças, supostamente ligadas à cobertura de assuntos criminais na cidade. Neste contexto, o Escritório soube que o assassinato teria ocorrido após a publicação de uma notícia sobre a prisão de um homem supostamente suspeito de um duplo homicídio.

A Relatoría lembra que, de acordo com o Princípio 9 da Declaração de Princípios sobre a Liberdade de Expressão da CIDH, " o assassinato, o sequestro, a intimidação e a ameaça aos comunicadores sociais, assim como a destruição material dos meios de comunicação, viola os direitos fundamentais das pessoas e limitam severamente a liberdade de expressão. É dever dos Estados prevenir e investigar essas ocorrências, sancionar seus autores e assegurar reparação adequada às vítimas.".

O assassinato de pessoas comunicadoras é a forma mais extrema de censura. Como a CIDH e sua Relatoria têm reiterado, a falta de sanções para os responsáveis por esses crimes pode enviar uma mensagem permissiva de violência, encorajando a ocorrência de novos crimes e contribuindo para a autocensura. A esse respeito, preocupa a Relatoría que outro portal de notícias da cidade de Fortaleza, que também reporta sobre assuntos locais, tenha anunciado que deixará de cobrir a agenda policial a fim de preservar a integridade de sua equipe.

A Relatoria exorta o Estado brasileiro a empreender, de acordo com seu dever de garantir o direito à liberdade de expressão, seus melhores esforços para investigar, processar e punir os autores materiais e intelectuais do crime, especialmente considerando uma linha de investigação por retaliação ao exercício do jornalismo pela vítima. O Escritório também exorta o poder público a rechaçar enfaticamente a violência contra a imprensa e a reconhecer publicamente o valor do jornalismo nas sociedades democráticas.

A Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão é um escritório criado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para estimular a defesa hemisférica do direito à liberdade de pensamento e expressão, considerando seu papel fundamental na consolidação e desenvolvimento do sistema democrático.